
Os cantos e os toques das religios afro-brasileiras tem merecido uma escassa documentaocao fonográfica. O grupo Ofa faz esse trabalho de mero acréscimo numérico, através da expecionalidade da voz e do estilo de Ebomi Delza, cantora sacra do terreiro de Gantois. O diferencial do grupo Ofa é agregar uma viveza e representação fiel do candomblé de modo que não se encontrariam em nenhum outro disco antropológico ou folclórico.
A singeleza pop das intervenções harmônicas (teclados e violão) e dos efeitos eletrônicos aliadas a gravação de sons ambiente recria o clima das casas de candomblé imprimindo uma permeabilidade, plasticidade, e porosidade natural popular. Direção musical de Yomar Assogba e Iuri Passos, com nove anos de carreira.
Oriki D'Oxum (Faixa 9 do disco):
M'oro mi mimó mu
M'oro mi mimó mu
M'oro mi mimo mu
Iyá abiyamu lódo, oko yèyè ó
Eu encontrei água doce para beber
Eu encontrei água doce para beber
Eu encontrei água doce para beber
Mãe das mães com muitos filhos
No fundo do rio
Ela foi feita em honra da senhora das águas doces Oxum, Osun e vem sendo cantada há séculos graças à força de seus filhos na África e no além mar.
A beleza deste Oriki está em sua singeleza... Uma música religiosa não precisa conter dogmas, milagres sobrenaturais ou uma ordem de absoluta resignação do homem pecador frente a perfeição divina para ser transcendente.
Nesta canção o homem comemora todo o significado da vida apenas agradecendo a benção de poder encontrar água para beber, pois água é o leite da mãe das mães, origem de todos os seres vivos... Agradecer a água doce é, portanto respeitar o dom da vida, o maior presente da natureza, que tanto sofre nas mãos do homem ocidental.
Em tempos de “consciência” Avatar, prefiro cantar o lindíssimo e secular Oriki de Oxum para agradecer a água que ainda me chega pelos canos da Sabesp, sabe deus até quando...
Filosofia à parte, este disco é lindíssimo!!!
Neste Odum Orim (Festa da Música) o grupo Ofá formado por integrantes da comunidade do Ile Axé Omi Ya Massé (mais conhecido como terreiro do Gatois) fazem jus ao nome do disco revelando toda a beleza de uma religião em que a música é sempre uma celebração, uma festa de deuses que dançam pela humanidade...
Merece especial atenção a voz da solista Ebomi Delza, cantora sacra do Gantois, que com sua energia enriquece ainda mais as gravações.
Como diz o encarte, este disco é um caso raro nas gravações de música religiosa afro-brasileira, onde a iniciativa de gravação partiu dos próprios agentes e não de algum antropólogo, etnólogo decidido a registrar “fielmente” alguma coisa... Assim, o disco se enriquece ao somar a harmonia dos violões e efeitos eletrônicos aos toques religiosos dos instrumentos de percussão, revelando toda a permeabilidade dos músicos do Gantois a música que é feita fora dos muros do terreiro. Coisa que obviamente seria impossibilitada por um disco de orientação etnográfica...
como ela cantava bem... eu amo o cd dela...
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