quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Grupo Ofá





Os cantos e os toques das religios afro-brasileiras tem merecido uma escassa documentaocao fonográfica. O grupo Ofa faz esse trabalho de mero acréscimo numérico, através da expecionalidade da voz e do estilo de Ebomi Delza, cantora sacra do terreiro de Gantois. O diferencial do grupo Ofa é agregar uma viveza e representação fiel do candomblé de modo que não se encontrariam em nenhum outro disco antropológico ou folclórico.

A singeleza pop das intervenções harmônicas (teclados e violão) e dos efeitos eletrônicos aliadas a gravação de sons ambiente recria o clima das casas de candomblé imprimindo uma permeabilidade, plasticidade, e porosidade natural popular. Direção musical de Yomar Assogba e Iuri Passos, com nove anos de carreira.

Oriki D'Oxum (Faixa 9 do disco):


M'oro mi mimó mu
M'oro mi mimó mu
M'oro mi mimo mu
Iyá abiyamu lódo, oko yèyè ó

Eu encontrei água doce para beber
Eu encontrei água doce para beber
Eu encontrei água doce para beber
Mãe das mães com muitos filhos
No fundo do rio



Esta é uma das mais lindas canções que a humanidade já produziu...
Ela foi feita em honra da senhora das águas doces Oxum, Osun e vem sendo cantada há séculos graças à força de seus filhos na África e no além mar.
A beleza deste Oriki está em sua singeleza... Uma música religiosa não precisa conter dogmas, milagres sobrenaturais ou uma ordem de absoluta resignação do homem pecador frente a perfeição divina para ser transcendente.
Nesta canção o homem comemora todo o significado da vida apenas agradecendo a benção de poder encontrar água para beber, pois água é o leite da mãe das mães, origem de todos os seres vivos... Agradecer a água doce é, portanto respeitar o dom da vida, o maior presente da natureza, que tanto sofre nas mãos do homem ocidental.
Em tempos de “consciência” Avatar, prefiro cantar o lindíssimo e secular Oriki de Oxum para agradecer a água que ainda me chega pelos canos da Sabesp, sabe deus até quando...
Filosofia à parte, este disco é lindíssimo!!!
Neste Odum Orim (Festa da Música) o grupo Ofá formado por integrantes da comunidade do Ile Axé Omi Ya Massé (mais conhecido como terreiro do Gatois) fazem jus ao nome do disco revelando toda a beleza de uma religião em que a música é sempre uma celebração, uma festa de deuses que dançam pela humanidade...
Merece especial atenção a voz da solista Ebomi Delza, cantora sacra do Gantois, que com sua energia enriquece ainda mais as gravações.
Como diz o encarte, este disco é um caso raro nas gravações de música religiosa afro-brasileira, onde a iniciativa de gravação partiu dos próprios agentes e não de algum antropólogo, etnólogo decidido a registrar “fielmente” alguma coisa... Assim, o disco se enriquece ao somar a harmonia dos violões e efeitos eletrônicos aos toques religiosos dos instrumentos de percussão, revelando toda a permeabilidade dos músicos do Gantois a música que é feita fora dos muros do terreiro. Coisa que obviamente seria impossibilitada por um disco de orientação etnográfica...

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